SER PAIA EXTRAORDINÁRIA DESCOBERTA DO SIGNIFICADO DE

Um Só


Ontem, hoje e amanhã. Bem que poderia ser o refrão de uma bonita música portuguesa. Mas neste caso, não é.

A caminho do quarto mês, sinto-me, cada dia que passa, mais próximo. Que estamos mais próximos. Que a nossa ligação tem encurtado, dia após dia. Os banhos tornam-se mais interactivos. E nem a expressão “água por todo o lado” afasta a felicidade de assistir a todo este desenvolvimento. Longe da compreensão plena das minhas palavras, as suas manifestações são cada vez mais próximas e condizentes com os meus estímulos. Os sorrisos acertados, a procura da voz, que lhe é familiar, que é também sua, por direito.

Já não quer estar sozinha. E a ausência do seu campo de visão dá direito a descontentamento. Só acontece connosco. Está tão dependente dos Pais como os Pais estão dela. Dependência boa, feliz.

Somam-se agora, a tudo isto, os milhares de saltos e palhaçadas que faço, apenas para que esboce um sorriso ou a gargalhada fácil, que tão natural lhe é, e quando o dia nasceu feliz. Passamos a profissionais da encenação, com músicas e letras aldrabadas e coreografias inventadas. Apenas para superar a importância e a côr de um qualquer brinquedo ou boneco que em nada lhe desperta a atenção.

Vivemos hoje uma nova fase, mais equilibrada entre a emoção e a razão, onde o Amor, esse, teima em não parar de aumentar.

Conversamos muito. Monólogos onde a Luisa guarda tudo o que ouve, tudo aquilo que o Pai lhe diz. Talvez para um dia me questionar da verdade e da razão do meu discurso, com o passar dos tempos.

Pela primeira vez, o choro muda de “tonalidade”. E pela primeira vez as suas lamentações são interpretadas. Acção reacção. De difícil gestão, mas com fácil compreensão.

Deixamos a Luisa na sua nova cama, sozinha, para que o sono venha por si, sem ajudas. Maior a cama, porque felizmente, não pára de crescer. Acolhedora para que o Mundo lhe continue a parecer perfeito. O quarto, esse, é o de sempre. O nosso. Onde os três, num pequeno espaço de quatro paredes, somos verdadeiramente nós, uma família. De noite ou de dia. E mudará para o dela, apenas quando estiver preparada, quando “quiser”...

Peço-lhe, vezes sem conta, que repita o som da palavra “Papá”. Que levante os braços como quem me pede um abraço. Ou que se manifeste quando sente que não estou por perto. Tenho ânsia em viver tudo com ela e sem ela, talvez tanta coisa vivida no passado já não faça tanto sentido.

Os filhos não são propriedade dos Pais. A Luisa não é minha propriedade. Mas tudo em mim está nas pequenas mãos da Luisa.
E o pacto é simples. Sem reservas ou excepções. Somos um só. Seremos um só.

E olharemos nos olhos, um do outro. Como hoje já o fazemos. Bastará isso para percebermos. Bastará isso para sabermos como estamos e o que quereremos um para o outro...


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