SER PAIA EXTRAORDINÁRIA DESCOBERTA DO SIGNIFICADO DE

Mão sobre Mão


Dia 18 de Junho de 2014. Um dia para nunca mais esquecer. Conto hoje quinze dias de profunda descoberta. Saímos dois, eu e a minha mulher, de casa, em direcção à Ordem da Lapa e regressamos cinco. O pai, a mãe, eu, a minha mulher e a Luisinha. Uma realidade de papeis, que ainda se desenham à medida que os dias encurtam e as noites se repetem.

Talvez só hoje tenha conseguido recuperar todas as emoções que se soltaram e rodearam aquela que é a maior experiência e aprendizagem de uma vida. Talvez no dia de regresso a casa tenha compreendido que a dinâmica muda. Tudo muda. O significado das rotinas ganha uma outra relevância.

A Luisinha nasceu às 15h15m. Levada, juntamente com a Mãe, subiu para o seu quarto onde viria mais tarde a conhecer o pequeno Mundo que a rodeia. Conduzia a sua cama uma senhora cuja jovialidade havera roubado o tempo, de seu nome “Felicidade”. A equipa médica, essa, estava repleta de Luísas. Apenas um enquadramento possível. Ou talvez quis a vida começar da melhor forma e dar-lhe um rumo, dar um destino ao que nos ofereceu. O seu nascimento está tão coberto de magia que faltaram as palavras, ou mesmo os pensamentos. No momento tudo foi instantâneo. Todos nós fomos sentimentos, nas horas anteriores e posteriores ao momento. Durante, tudo foi coração...

Na primeira noite, faltou-me o sono. Talvez fixei o olhar na tentativa de descrever e memorizar todos os poros que percorrem o seu corpo. Passaram-se horas e tudo estava lá, continuava lá. Para minha alegria. Menos os ponteiros do relógio que tinham pulado os números e avançado ferozmente. O descanso, nesta fase, é fundamental. Mas não tem hora marcada. Chega quando chegar a oportunidade. O primeiro banho, esse, não. Enche-nos os olhos repletos de água. As nossas mãos percorrem todo o seu corpo. A nossa massa. Como se o seu ADN soubesse que o que estava para lá da pele, também lhe pertencia.

Pertencia-lhe igualmente o sitio para onde a levamos. A nossa casa. O espaço dela. Aqui grita a coragem: estamos por nossa conta. E assim foi. E não nos temos saído nada mal, modéstia á parte.

Com o tempo caiu o elo físico mais importante. O que resta do cordão umbilical. E até este escolheu a melhor altura. Mãe e Pai. Eu e a minha mulher. Juntos. A viver mais uma etapa, sem pressa...

A mudança física da Luisinha acompanha a mudança de todo um cenário. De toda uma casa. Todos os dias surgem contrariedades. Todos os dias surge a dúvida sobre a duração e a dimensão de uma noite só. Um pai vê-se a braços com tudo isto. Julgo que sou lento de sentimentos. Forte mas lento. E com isto é construído um laço, a cada segundo que a coloco no meu colo. Um laço indestrutível. Uma fortaleza sem fim.

Ser Pai é ser parceiro no “negócio”. Descobrir que somos uma espécie de estafetas domésticos. Palmilhamos quilómetros, nas mesmas estradas, caminhos e atalhos, sempre em busca do que falta. Porque faz falta sempre alguma coisa no momento. Para nós, o importante, é que nunca falte nada. Absolutamente nada. Para elas, o importante é que estejamos sempre lá.

Ser Pai é igualmente ser mais amado. Nenhuma Mãe, com M grande como a que eu tenho em casa, resiste a um Pai extremoso, quando ele verdadeiramente o é. Revigoram-se os laços. Reforça-se o Amor entre ambos. Sinto que a vida ganhou um novo significado que nunca teve. Melhor, bastante melhor. O Amor, de Pai e Filho é forte. Muito calmo e sereno. Um Amor que não se define na literatura moderna. Talvez de lágrima fácil, mas de interrupção dificil.

Nas horas, essa medição fatal do tempo, a Luisinha insiste em que estejamos de mãos dadas. É algo pessoal. Não a contrario. Ela sente que estamos lá. E com quinze dias apenas, tem a certeza que estaremos sempre juntos...


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